"Sou uma Mestra de Especiarias.
Sei lidar com as outras coisas também. Mineral, metal, terra e areia e pedra. As gemas, com aquela luz clara e fria. Os líquidos cujos tons ardem em nossos olhos até nada mais enxergarmos.
Aprendi isso tudo lá na ilha.
Mas as especiarias são a minha paixão.
Conheço a origem de todas, o significado de suas cores, os cheiros. Sei o nome original que cada uma recebeu quando a casca da terra se abriu, oferecendo-a ao céu. Tenho o calor de todas correndo no sangue. Do amchur ao açafrão, elas se curvam às minhas ordens. Basta uma palavrinha e elas liberam para mim suas propriedades ocultas, seus poderes mágicos.
Sim, todas elas têm uma magia, mesmo essas mais corriqueiras que a gente põe na panela sem pensar.
Está duvidando? Ah. Você esqueceu os segredos antigos que as mães de sua mãe sabiam.
Aí vai um deles novamente: esfregar no pulso uma fava de baunilha deixada de molho em leite de cabra espanta mau-olhado. E aí vai outro: uma medida de pimenta-do-reino, em forma de crescente, no pé da cama livra a pessoa de pesadelos.
Mas as realmente poderosas vêm da minha terra natal, terra de poesia ardente, plumas cor de água-marinha. Poentes vermelho-sangue.
É com essas que trabalho.
Se você se colocar no meio dessa sala e for se virando aos poucos, vai ver todas as especiarias indianas já existentes - inclusive as extintas - reunidas nas prateleiras aqui da minha loja.
Acho que não é exagero meu dizer que no mundo não existe nenhum lugar como esse.(…)"
Assim começa o livro "A Senhora das Especiarias", de Chitra Divakaruni.
Também sou apaixonada pelo poder delas e pela fantasia degustativa que passam aos alimentos.
Há muitas receitas, principalmente as indianas, mestras em usar os cheiros e sabores destes elementos que um dia fizeram caravelas atravessarem mares perigosos à sua procura.
Está aberta a entrada do jardim das especiarias!
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