A cozinha é o lugar mais reconfortante da casa porque nele encontramos alimento para o corpo e para a alma. Deixe a Natureza entrar na sua e esqueça os produtos feitos pela indústria alimentícia em geral, que não coloca amor nesse ato nem está preocupada com a saúde do seu organismo e o de sua família!

Esse é um dos segredos de manter o bem-estar - não entregue essa função vital a terceiros - ponha a mão na massa, deixe a preguiça de lado e estabeleça como prioridade fazer a comida que vai mantê-lo longe das doenças!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Uma nutricionista consciente


No post anterior, citei a nutricionista Herta Karp Wiener, uma senhora sábia e consciente sobre a nutrição adequada a nós, humanos, que não necessitamos de carne para sobreviver.
Conheço-a desde a época em que frequentava a Coolmeia, no prédio da José Bonifácio, onde ela passava recomendações alimentares aos frequentadores. Sinto muita saudade da Coolmeia, dos almoços, dos lanches, do armazém, dos livros, enfim, de um local que frequentava bastante e com o qual me identificava muito! Hoje mesmo ao passar ali em frente, me desgostei mais uma vez ao ver que o local agora abriga um restaurante onívoro... Mas, enfim, é o progresso, dizem... (?)

Segui durante muito tempo as dicas da dona Herta nesse livro:


Depois, algumas coisas modifiquei, como o consumo de leite, por exemplo, mas ele me auxiliou muito!

Recentemente, ela lançou o livro Natural Gourmet:

"COMER COM PRAZER É NATURAL

Para a nutricionista Herta Karp Wiener, que está lançando o livro Natural Gourmet, alimentação saudável e culinária saborosa andam juntas (entrevista concedida para a jornalista Lilian Dreyer).

Lilian – Herta, tua trajetória profissional é incomum. O que foi que te levou a estudar Nutrição?

Herta - Sempre tive interesse pelo tema. A comida natural foi introduzida em nossa casa, durante a minha infância, porque uma mudança de alimentação operou um milagre sobre a saúde do meu pai. Ele tinha artrite reumatoide, num grau que já estava produzindo deformações no corpo dele, sem que os remédios conseguissem debelar o mal.

Lilian – Ele era jovem e tu eras criança nessa época?

Herta – Eu tinha uns oito anos de idade, meu pai tinha quarenta. Ele sofria dores terríveis. Nessa época, logo depois da Primeira Guerra, nós morávamos em Lwòw, cidade fronteiriça da Polônia com a Ucrânia. Por causa da grande escassez de moradias, habitávamos uma única peça, que era bem grande mas sem paredes divisórias. Assim, à noite, eu ouvia o padecimento dele, ele gritava de dor quando se virava na cama. Então aconteceu de travarmos contato com um homem que tinha formação como médico mas achava que as bases da medicina eram falhas. Ele estava focado em duas coisas: alimentação e transmissão de energia.

Lilian – E o que ele recomendou para o teu pai?

Herta – Primeiro ele fez uma sessão de transmissão de energia, um tipo de passe, que naquele tempo era novidade, algo que vinha sendo trazido por um sábio austríaco, chamado Mesmer. Até hoje essa prática é conhecida como mesmerismo. A seguir ele prescreveu uma radical mudança de alimentação.

Lilian – Tu eras pequena, mas tu te lembras qual era o sentido dessa mudança?

Herta – Meu pai quis contar a esse médico o que ele sentia, mas recebeu dele como resposta: “não precisa me contar nada, porque isso não é importante, a doença é sempre uma só, as manifestações é que mudam”. Depois eu soube que esta visão terapêutica tinha nome, o Princípio Único, que considera que a fonte das doenças é sempre um desequilíbrio no corpo, causado principalmente por equívocos na alimentação. O médico prescreveu uma série de mudanças na dieta do meu pai, e com isso ele se curou. Isso depois de ele ter passado por sete diferentes médicos, que não haviam conseguido ajudá-lo.

Lilian – Mas curou mesmo, Herta? Teu pai ficou bom?

Herta - Pois é, curou. A artrite reumatoide está entre as doenças que são chamadas de fluxões, ou seja, doenças que se recolhem mas não vão totalmente embora, se o paciente deixar de se cuidar a doença volta a se manifestar. Meu pai só voltou a ter problemas depois de bem velho, quarenta e tantos anos depois de ficar livre da doença. Ele tomou um antibiótico e então a artrite retornou.

Lilian - E tu te lembras qual foi a principal mudança de alimentação que foi prescrita ao teu pai?

Herta - O fundamental foi a retirada das carnes. Depois havia uma prescrição específica para o caso do meu pai, o médico receitou-lhe uma única refeição por dia. Durante um tempo, meu pai tinha de tomar, antes do por do sol, um copo grande de coalhada, acompanhada de uma maçã, sendo que esta refeição tinha que durar uma hora e meia. Ele tinha de mastigar a maçã até desmanchar. Meu pai, que era um homem possante, quase dois metros de altura, mas não era gordo, emagreceu 35 quilos. Foi bem difícil seguir essa dieta, ele ficava nervoso. Mas se curou. E a cura levou-o a introduzir mudanças alimentares em nossa casa. Na Polônia não tínhamos arroz, então usávamos batata, polenta, mas a base era sempre um hidrato de carbono, um legume e uma salada.

Lilian – Então esse episódio, ainda na infância, te levou a tomar interesse pela questão da alimentação.

Herta – É, virei como que uma discípula desse médico. Ele tornou-se nosso amigo, vinha nos visitar, dava-nos umas aulas e eu sempre junto, querendo aprender.

Lilian – E aí aconteceu todo o processo de tua vinda ao Brasil, por causa da Segunda Guerra, das perseguições aos judeus. Tu casaste aqui, criaste tua família, e bem mais adiante vieste a estudar Nutrição.

Herta – Fugimos para o Brasil duas semanas antes de estourar a Guerra. Vim morar aqui no Sul mais tarde, por causa do meu casamento. Como eu era praticante de ioga, de que eu gostava muito, entrei em contato com a Grande Fraternidade Universal, a GFU, que deu origem à Coolmeia. Na GFU descobriram que eu era naturalista. Chamavam de naturalismo porque não se tinha um nome para esse estilo de vida, que excluía a carne da alimentação e incluía alimentos naturais e integrais. Pediram-me que eu desse cursos, o que aceitei de imediato, eu inclusive os financiava, comprava e fazia os materiais didáticos, pesquisava informação em livros, procurava respaldar o conhecimento que eu tinha. Sempre foi um grande sucesso, tínhamos um público interessado, promovíamos jantares, começaram a me requisitar para entrevistas na mídia. Daqui a pouco me pediam para escrever um livro, para documentar toda essa experiência. Foram essas as razões que me levaram a estudar Nutrição. Eu me sentia insegura, achava que não tinha autoridade para responder as perguntas que me faziam nas entrevistas e sentia o mesmo com relação a escrever um livro. Depois vim a descobrir que a palavra chave para a Era de Aquarius era Saber, e que até pessoas como o Raijnesh, que influenciou a tantos com sua filosofia, também fez diversos cursos, de Psicologia e outros, pela mesma razão, porque autoridade só tinha quem se fundamentasse. Eu senti a mesma necessidade, embora mais tarde me desse conta de que a maior parte da informação que o curso proporcionava eu já tinha adquirido sozinha, tamanho era o meu interesse. De todo modo, acredito que para fazer valer o que eu dizia eu precisava ter um suporte científico.

Lilian – Mas aí tiveste de passar por toda uma preparação prévia, não é, para enfrentar o vestibular. Que idade tu tinhas quando começaste a estudar Nutrição?

Herta – Eu estava com 56 anos quando cheguei à faculdade. Ao falar com meu filho sobre minhas inquietações com relação à minha formação, ele me sugeriu que eu fizesse um curso técnico de Nutrição, havia um inclusive no Colégio Americano. Quando fui me inscrever, exigiram-me um documento comprovando a conclusão do primeiro grau. Eu não tinha essa comprovação, nós intencionalmente abandonamos documentos no momento da imigração. O cônsul que nos deu entrada, contrariando as normas vigentes, porque o governo de Getúlio Vargas não aceitava a entrada de judeus, aconselhou-nos nesse sentido. Nos meus certificados escolares a primeira coisa que aparecia era a religião… Muito mais tarde, através de leituras, vim a saber que essa foi uma prática comum do bom coração dos brasileiros, muita gente deu um jeito para permitir que imigrantes como nós pudessem entrar. Bem, no fim, em vez de fazer um curso técnico, acabei entrando em um curso supletivo de segundo grau. E aí aconteceu uma coisa muito interessante: a primeira aula do cursinho foi igual à última aula que eu tinha feito na Europa – trigonometria. Seno e cosseno, foi a última aula de matemática que tive na Europa e a primeira que tive no Brasil. Quando prestei vestibular para a Ufrgs havia 20 mil candidatos na disputa, e eu me classifiquei com o lugar 2 mil, passei na primeira opção, Farmácia. Não era o que eu queria, mas não havia ainda faculdade de Nutrição. Logo em seguida, porém, a instituição hoje conhecida como IPA abriu o curso de Nutrição em nível superior. Prestei vestibular novamente e passei em primeiro lugar.

Lilian – E assim finalmente adquiriste a autoridade que buscavas para escrever teu primeiro livro, Caminhos Naturais de Nutrição, lançado pela Editora Agora, em 1987. Uma coisa muito interessante que há no teu novo livro, o Natural Gourmet, que está sendo lançado, é o preparo de pratos tradicionais da cozinha europeia mas com substituição de ingredientes, de modo a tornar os pratos mais leves e saudáveis. Como te surgiu esta ideia?

Herta - Era o que a minha mãe fazia em casa. E eu também não via a necessidade de me privar daquela culinária saborosa só por ter aderido a uma alimentação naturista. Então comecei a adaptar as receitas.

Lilian – Tiravas os excessos de gorduras e de ovos, substituías as farinhas e o açúcar branco…

Herta - Sim, e quando era um prato à base de carne eu também substituía. Depois de estudar Nutrição entendi melhor como fazer essa substituição. Comecei também a eliminar as más combinações de alimentos. Tenho orgulho de dizer que essa é uma especialidade minha, porque nem na faculdade havia atenção a esse aspecto.

Lilian – O que seria uma má combinação?

Herta – Repolho com ovos, por exemplo. O fósforo contido nos ovos reage com substâncias existentes no repolho, provocando flatulência. Outra combinação ruim, que é até muito popular, é espinafre com leite e derivados. Certa ocasião fez-se um inquérito alimentar numa região onde se verificava uma alta incidência de anemia na população, e se constatou que as pessoas tinham hábito de beber leite para matar a sede, bebiam leite quando chegavam em casa e continuavam bebendo durante o almoço. Parece bom, mas é uma péssima ideia, porque o leite entra em combinação com o ferro de outros alimentos, como é o caso do espinafre, formando um sal que o organismo não tem condições de aproveitar.

Lilian – Por falar nisso, como tu explicas o alto índice de osteoporose que hoje se verifica mesmo em populações que incluem leite em sua dieta?

Herta – Boa pergunta. Eu quanto a isso vou meio na contramão da medicina. Já cheguei a ouvir até que a osteoporose seria consequência de termos evoluído de quadrúpedes para bípedes, o que acarretaria mais peso sobre a coluna vertebral. Só que eu parto do ponto de vista de que a natureza não faz nada errado. A coluna tem uma forma perfeitamente adaptada à sua postura. Há quem fale também sobre a posição do corpo durante o sono, os colchões, a postura em geral. Concordo com isso em parte, mas não acredito que essas causas pudessem ter efeitos tão severos. Já no que se refere à alimentação, sabemos que hoje ingerimos excesso de açúcares e farinhas refinados. Substrai-se desses alimentos toda sua estrutura de minerais e vitaminas, os quais, justamente, são necessários à digestão de açúcares e farinhas. Quando ingerimos um produto que não traz consigo a “infraestrutura” necessária à sua decomposição e remonte, esse produto vai retirar isso do nosso organismo, especialmente cálcio e complexo B. O complexo B vem inteirinho na película do grão, mas essa película é retirada no refino.

Lilian – Pra gente entender melhor: no momento em que se faz uma farinha branca, ao eliminar o cálcio e o complexo B que os grãos traziam na casca, obriga-se esta farinha, para ser processada na digestão, a roubar elementos do nosso organismo.

Herta – Exatamente. Vai roubar cálcio dos ossos e dos dentes, vai retirar outros elementos da corrente sanguínea. E o açúcar branco faz a mesma coisa. Essa relação é hoje aceita no meio médico como uma das causas da osteoporose, mas eu a considero a principal causa. E mais uma coisa: a ingesta exagerada de proteína. Isso foi comprovado em esportistas. Achava-se que devido ao esforço maior tinha-se de aumentar a ingesta de proteína. Mas constatou-se que a partir de determinado limite isso prejudicava o desempenho, a proteína não deixa que seja absorvido o cálcio. Então, por um lado, a falta das partes nobres da planta, e por outro o excesso de certos nutrientes.

Lilian – Ao que parece, tu pregas uma volta ao natural, mas estás muito atenta à evolução científica, valorizas as conquistas que a Ciência tem feito na área da Nutrição.

Herta - Valorizo, tanto é que sigo. Claro que sempre pondero, penso bem se não se está seguindo por caminhos meio desviados, se a importância que se dá a determinada informação não é exagerada, enfim, presto atenção às nuances.

Lilian – E o que as pessoas que vão comprar teu livro, que vão penetrar nessa tua obra, o que elas podem esperar? O que tu estás querendo passar para o público?

Herta – Eu quero passar para as pessoas a noção de que elas podem se alimentar com todo o prazer que essa função vital produz. A alimentação foi “planejada” já com esse intuito. Todas as funções vitais são ligadas ao prazer. Isso é sábio, porque se fossem desprazerosas, se fossem um castigo, fugiríamos delas. Então não é preciso desistir do prazer de comer, esse prazer é natural. Mas a palavra Saber, tão ligada à era de Aquarius, precisa ser valorizada. Nós já sabemos que estamos cometendo erros no modo como nos alimentamos, já sabemos os resultados tristes que advêm de nos alimentarmos de forma errada, tristes para nós e até para todo o planeta. Mas no livro não enveredamos para este lado, o que queremos com ele é aderir, com toda leveza, ao lado bom da vida, em todos os sentidos.

Herta Karp Wiener presta consultoria em nutrição na Feira dos Agricultores Ecologistas, aos sábados, quinzenalmente, na rua José Bonifácio, próximo ao parque da Redenção em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul."

Fonte dessa entrevista: maisQnada

Dicas dela sobre o consumo de melancia!

4 comentários:

Lu disse...

Nossa, gostei muito do seu blog. E fiquei admirada de ler essa entrevista, porque, normalmente, as pessoas mais velhas são as que mais prezam a carne, o leite etc. è bom saber que há mais gente no muito preocupando-se em nutrir-se com boa alimentação. Abraço!

Vera Falcão disse...

Que bom, Lu, volte sempre! A dona Herta é uma criatura incrível e ainda presta atendimento nutricional lá na feira... grande abraço!

Carol Balan disse...

ateeVera, estou encantada com a Sra Herta!! Quanta sabedoria, inteligência e disposição! Além da história de vida, que é impressionate! Seu blog é fantástico, cada dia aprendo coisas novas e muito boas!! Beijos

Vera Falcão disse...

Legal, Carol! Ela é mesmo uma pessoa incrível, uma daquelas que não veio ao mundo a passeio... :)