A cozinha é o lugar mais reconfortante da casa porque nele encontramos alimento para o corpo e para a alma. Deixe a Natureza entrar na sua e esqueça os produtos feitos pela indústria alimentícia em geral, que não coloca amor nesse ato nem está preocupada com a saúde do seu organismo e o de sua família!

Esse é um dos segredos de manter o bem-estar - não entregue essa função vital a terceiros - ponha a mão na massa, deixe a preguiça de lado e estabeleça como prioridade fazer a comida que vai mantê-lo longe das doenças!

sábado, 30 de maio de 2009

O que é "leite vegetal" ou PVL?


A definição clássica de leite:
líquido gerado nas glândulas mamárias das fêmeas mamíferas, destinado à alimentação de seus filhotes.


Um dos motivos para os detratores dos “leites vegetais” os criticarem: "LEITE VEGETAL NÃO É LEITE...”

A idústria da soja popularizou esse termo, lançando no mercado o “leite de soja”, o que deve ter incomodado bastante a indústria láctea.

Enquanto ambas discutem qual dos “leites” é mais indicado para a saúde dos humanos, há muito tempo optei pelas bebidas feitas com outras sementes, grãos e castanhas, que oferecem proteínas e vários nutrientes, tendo inclusive sido o único tipo de "leite" que ofereci à minha filha caçula, hoje com 9 anos.

Decidi chamá-los, no momento, de uma forma que julgo mais acertada e para desfazer a ligação com os leites animais de Proteína Vegetal Líquida ou Proteína Veg Líquida - por isso, a sigla do título - PVL.

Encontrei uma opção de "leite não-animal" para crianças com a leitura do livro Mamãe, eu quero, da Sonia Hirsch, edição de 1984. Nessa obra, ela indica uma receita, seguindo a tradição macrobiótica, de ferver muitas horas os ingredientes.

Eis a receita:

LEITE DE GRÃOS


4 CS de arroz integral
2 CS de arroz moti ou aveia em grão
1/2 CS de trigo ou cevada
1/2 CS de feijão azuki ou lentilha
1/2 CS de gergelim claro
4 partes de água para 1 de sólidos

Cozinhar em fogo baixo, mais ou menos 3 horas, em panela esmaltada; se for de ferro, melhor, mexer para não grudar os grãos no fundo.
Na superfície, a parte mais rala, fica o leite; no fundo, os grãos desmanchados formam a papa. Passando-a na peneira, vira o creme que pode ser misturado com legumes ou vegetais, um caldinho de feijão - ou o que sua imaginação sugerir.

Como vemos, ela denominava “leite” à parte mais rala (líquida) dessa fervura de grãos.

Essa bebida é baseada na receita do kokkoh macrô (alimento para crianças), que encontra-se no Guia Prático da Alimentação Macrobiótica Zen segundo o Prof. Ohsawa, de Ilse Clausnitzer (1969). Na época, tal receita não me chamou a atenção porque ainda não tinha filhos...

Vejam como a receita é similar:

Para bebês e crianças, pode-se preparar em casa uma mistura de 200 g de arroz integral, 200 g de trigo sarraceno, 300 g de aveia descascada ou em flocos, 180 g de Graham ou farinha de trigo integral, 100 g de sementes de gergelim e 50 g de farinha de soja. Cada cereal deve ser dextrinado separadamente: 1 a 2 horas de forno entre 80a 90ºC ou por menor tempo em frigideira, mexendo.
Cada cereal será reduzido separadamente à farinha bem fina e após, tudo é misturado.
O alimento infantil "kokkoh" já preparado encontra-se nas casas especializadas.
Para servir às crianças que se amamentam em mamadeiras, cozinham-se 100 gramas em 1 litro de água e leite misturados na proporção de 1:1.


Particularmente, escolhi a primeira receita, que me pareceu mais simples de fazer e mais nutritiva, além de não conter alguns ingredientes da segunda, que considero nocivos.

Então, mais tarde, nos anos 90, descobri os “leites” que poderia fazer com sementes, grãos e castanhas, sem cozinhá-los, simplesmente hidratando-os ou germinando-os e utilizando os resíduos de alguns em receitas de cremes, "queijos", pastas etc.

O método para fazer é muito simples: hidratar ou germinar as sementes, grãos, castanha e frutas secas.
Adiciona-se água limpa aos germinados e batemos no liquidificador (desprezamos a água do molho).
Cereais em flocos (lâminas) ficam de molho e podem ser batidos nessa água onde permaneceram, bem como as castanhas e frutas secas hidratadas.
Coamos num pano tipo fralda de bebê ou coador com a trama bem fininha. O líquido obtido pode ser tomado puro ou misturado com frutas, em vitaminas, musses ou outras receitas.

Durabilidade e armazenamento:
Costumo fazer uma quantidade suficiente para um dia (mais ou menos um litro), que fica na geladeira.
No máximo, permanece de um dia para o outro..
A questão é que, como não tem conservantes, o melhor é consumir logo.

Eles funcionam perfeitamente em receitas, tipo bolos, pães e onde se indica o uso do leite de vaca ou de soja (com exceção do de gergelim, que não fica saboroso quando aquecido ou cozido).

Acredito que para um bebê, nada mais perfeito do que o leite materno.
Mas, nos raros casos em que a mãe não consegue alimentar seu filho (se existem muitos casos na atualidade, envolvem desinformação e outros motivos e não a "inexistência do leite"), existe a opção do "leite de grãos" cozidos.
Com o desenvolvimento do organismo da criança, ela poderá experimentar os "leites crus", bem como o suco de clorofila - sempre em doses menores do que nós, adultos - tanto na dose dos ingredientes quanto na dose consumida; além disso, deve haver variedade, não oferecer sempre o mesmo "leite".

O aleitamento materno exclusivo é indicado até os 6 meses.
Após essa idade, aconselha-se iniciar a inclusão de outros líquidos, como o suco das frutas e os chás.
Com minha filha, inicialmente usei o leite de grãos fervidos e também usava o resíduo para fazer as papinhas. Mas antes de completar um ano, ela já estava tomando a PVL, usando como ingredientes a aveia, o girassol, o coco, o arroz, o inhame e as castanhas.
Repetindo que, para bebês e para crianças, a dose dos ingredientes é sempre menor do que a dose para adultos (já que pode haver um excesso de ingestão de fibras, comprometendo o delicado sistema digestório deles) e deve-se usar variedade, isto é, não oferecer sempre o mesmo "leite" - por exemplo, aveia pela manhã e castanhas à tarde.

Quem já está acostumado ao leite animal e quer retirá-lo da alimentação, pode inicialmente misturá-lo à PVL, por exemplo com a de aveia, na proporção meio a meio.
Dessa forma, vai introduzindo o novo sabor ao paladar.
Aos poucos, diminui-se a quantidade do leite animal até eliminá-lo completamente, sem que fiquemos muito estressados com a perda do hábito.
Pode-se adicionar cacau aos preparados vegetais, o que torna o gosto similar ao popular “nescau”, bem como frutas, granola, etc.

Em outros tópicos, seguem receitas individuais: uma das mais fáceis de fazer é a bebida com inhame (ver a imagem): bater no liquidificador inhame cru e água - é saboroso e desintoxicante!
Informação atualizada sobre o consumo de INHAME CRU, segundo Sonia Hirsch:

"O inhame às vezes pinica tanto nas mãos quanto na boca. Isso indica que aquele inhame específico é rico demais em cristais de ácido oxálico e, nesse caso, é bom cozinhá-lo para neutralizar o ácido. Como há muita variação nos cultivares de inhame, o conteúdo de ácido oxálico (que pode dar pedra nos rins e dificultar a absorção de cálcio e ferro) também varia. O inhame branco japonês parece ser o mais apurado de todos, com teor baixíssimo do ácido. ATUALIZADO EM ABRIL 2009".

16 comentários:

Melissa Hellen disse...

Adorei seu blog com receitas de leite vegetal, pois tenho procurado uma alternativa para o meus irmão que tem IRC e não pode consumir proteína animal, além de mim mesma que sou vegetariana por amor e respeito aos animais.Obrigada por dividir seus conhecimentos.

Vera Falcão disse...

Oi, Mônica, que bom ter ajudado, vá experimentando os "leites" devagar e varie bastante, para que o organismo se acostume progressivamente com a novidade! Controle, principalmente, a ingestão das fibras; se sua alimentação já tem muitas fibras obtidas por outros alimentos, vá devagar com os "leites" - seu intestino poderá estranhar.

um abraço

Andressa disse...

adorei o blog. estou virando vegano e quero que meu filho seja tbm....por enquanto ele só mama...
ah, o q é cs?

Vera Falcão disse...

Oi, Andressa, que legal vc ter gostado do blog! Espero que ele te ajude bastante; CS é colher de sopa; se vc olhar na coluna esquerda da página inicial, tem uma tabelinha com as principais abreviaturas usadas nas receitas daqui. Um abraço!

Ingrid disse...

Oi Vera!

Não tenho escrito muito, mas quase todos os dias olho o seu blog!
Meu filhotinho tá chegando aos 6 meses, e agora tenho me concentrado em me preparar para essa fase, já que quero o melhor pra ele e pra minha família toda!
Li alguns livros da Sônia Hirsh, inclusive o "Mamãe, eu quero", e é nessa linha que pretendo caminhar.

E pra não sair sem perguntar... rsrs:

Onde você costuma achar melado de cana? Vc compra de alguma marca em especial que possa recomendar?

Beijos mil! Ótimo final de semana!

Ingrid Prouvot

Vera Falcão disse...

Oi, Ingrid, tb usei o "mamãe, eu quero", aprendi muito com ele, não só sobre alimentação. Fazia o leite de cereais e aproveitava o resíduo para as papinhas. Melado orgânico conheço o da marca Natu's e do convencional, gosto da Superbom. Aqui, às vezes, consigo comprar da produção de pequenos agricultores, mas aí só vendem por cá mesmo. Bjs!

Anônimo disse...

Oi Vera,
que legal seu blog!!!
sou vegetariana há bastante tempo, mas, como não gosto de soja, e quando era carnívora não tomava leite, fiquei muito sem opção...
Tinha dificuldades na hora de fazer algumas receitas, para substituir o leite. Que ótima opção essa!!!
ontem fiz o leite de linhaça. Eu tomei puro e ainda coloquei um pouco no suco de manga. Ninguém percebeu nada.
mas me deu um remorso jogar aquela linhaça fora...o que podemos fazer para aproveitá-la? é possível?
abraços e parabéns pelo blog!!!!
Helena

Vera Falcão disse...

Oi, Helena, obrigada pelos elogios e fico muito feliz por estar colaborando para que tua alimentação fique mais diversificada!
Costumo usar o resíduo de leites vegetais, principalmente o de gergelim, para fazer pastas ou "queijos vegs": simplesmente vc adiciona ao resíduo sequinho (a fibra dos grãos, sementes e castanhas que fica no coador) os temperos que preferir: cebolinha, salsa, azeitonas, pimenta, coentro etc e pode processar ou simplesmente só misturar os ingredientes, deixando-os inteiros.
Te confesso que ainda não fiz com a linhaça, mas quem sabe vc experimenta e depois conta aqui o resultado?

Um grande abraço!

lelé disse...

Prezadas amigas, com muita alegria, depois de anos cometendo a barbárie de ser carnívora, me tornei vegetariana. Porém, não consigo deixar de beber leite.Deixei a alimentação de animais por amor aos mesmos, felizmente caí na real, embora um pouco tarde... mas, melhor que nunca, certo? Mas, como sofro de depressão, o leite me ajuda muito, é estranho mas dá um, certo alívio de saciedade na minha ansiedade, minhas angúsitas, um nescauzinho. O problema é que, mesmo tentando beber o leite de soja (já fiz isso, ñ gostei, ñ consigo) o problemasão os preços dos alimentos naturais. Para quem se encontra em situação financeira apertada agora, comprar soja é difícil, então pergunto: se minha opção vegetariana é pelos amigos animias, não dá pra fazer leite de arroz ñ integral? Ou outro qq? Coco também não gosto, mas nunca tentei fazer o leite, fica com gosto? Agradeço sua resposta e os animais tb. Beijos.

Vera Falcão disse...

Leda, também não sou favorável ao consumo do leite de soja, por razões que estão explícitas aqui no blog... se fizeres com arroz branco não terá nutrientes o teu leite, além de uma boa porção de talco como brinde. Experimenta o leite de aveia, é bem simples de fazer, barato e o gosto não é estranho ao paladar comum. O leite de coco é delicioso mas obviamente deixa forte o sabor da fruta, mesmo se adicionarmos outros itens.
O leite e seus derivados contém o 5-HTP, um nutriente precursor direto da serotonina, que combate a depressão e dá essa "sensação de tranquilidade", além do açúcar e do chocolate do "nescauzinho"...
Mas existem outros alimentos com o 5-HTP, como a banana, a tâmara, o amendoim, os alimentos com alto teor de proteína.
O leite de gergelim tem mais proteínas do que o leite de vaca, mas o sabor é "estranho": a princípio, podes misturar uma parte dele para 3 de aveia e bater no liquidificador com frutas, banana, por exemplo e adoçar com melado.
Se ainda te sentes muito dependente do leite, come iogurte, já que a fermentação retira os malefícios e procura comprar de pequenos produtores que não usam crueldade com as vacas, usam métodos tradicionais na ordenha e na alimentação.

Anônimo disse...

Olá Vera

É a primeira vez que passo no teu blog mas desde já te dou os parabéns pelo post!

Venho tentando tornar-me mais "verde" de há uns tempos a esta parte. Comecei pela cosmética e produtos de higiene e actualmente estou a tentar adquirir hábitos mais saudáveis na alimentação. Tenho pesquisado sobre máquina de fazer leite mas entretanto percebi que não era necessária, ainda bem porque é muito cara. Então para saber se gosto dos leites vegetais comprei um pacote de leite de aveia biológico, e um pacote de leite de soja. E foi quase um desastre! Não fiquei com vontade de repetir. Se por um lado o de aveia me sabe a farinha crua, o de soja sabe a feijão nem sei o que é pior. O de aveia não foi tão mau assim mas acho que não me consigo habituar...
Entretanto como existem muitas possibilidades quero tentar fazer leite de amêndoa, quem sabe de avelã, etc. Mas receio nunca me habituar aos sabores.
Como foi contigo a transição?

Vera Falcão disse...

Na verdade, quando bebia leite animal, nunca o tomava puro: usava-o em vitaminas, com café, com cacau e em diversas receitas. Então, continuei agindo assim, apenas substituindo pelo leite vegetal - o sabor deles misturado a outros ingredientes é agradável, mas confesso que tenho preferência pelos de castanhas diversas. Uma vitamina de leite de aveia com banana bem madura é D+!

Dobrada à Moda do Porto (mas c/legumes) disse...

Olá!
Estou a dar os primeiros passos na alimentação vegetariana e o seu blog está a dar uma ajuda 5* ;-) Para dizer a verdade, já não como carne/peixe há mais de um ano, mas a comida que fazia até há alguns meses era sempre à base de salteados, omeletes, enfim coisa bem repetitiva. Agora estou a aprender a cozinhar vegetariano para ser uma vegetariana de jeito =)
Queria fazer uma pergunta:
Tento não consumir muita soja, mas gosto de tofu, especialmente se for caseiro. Sabe se há possibilidade de fazer tofu de feijão, ou de fava ou outra leguminosa para além da soja?

Um grande beijinho!!!

Vera Falcão disse...

Rita, não ouvi falar dessa possibilidade, creio que só a soja sirva para tal... mas se comer ocasionalmente e feito de soja não-transgênica, o tofu não é nocivo. Podes também usar o tempeh e o natto, onde a soja é fermentada e perde sua acidez (como no missô e no shoyu). Espero te auxiliar bastante a ter cardápios variados, beijo!

Alfabetização com Dificuldades disse...

oI VERA ACHEI O MAXIMO ESSE NOME QUE VC DÁ PROS LEITES VEGETAIS AMEI DEMAIS E COM SUA PERMISSÃO VOU COLOCA-LO NO MEU LIVRO. É CLARO QUE DANDO-LHE O DEVIDO CREDITO

Vera Falcão disse...

Sendo assim, tudo bem... pois estou colocando também essa denominação no livro que estou escrevendo sobre a Cozinha Natureba.