A definição clássica de leite:
líquido gerado nas glândulas mamárias das fêmeas mamíferas, destinado à alimentação de seus filhotes.
Um dos motivos para os detratores dos “leites vegetais” os criticarem:
"LEITE VEGETAL NÃO É LEITE...”
A idústria da soja popularizou esse termo, lançando no mercado o “leite de soja”, o que deve ter incomodado bastante a indústria láctea.
Enquanto ambas discutem qual dos “leites” é mais indicado para a saúde dos humanos, há muito tempo optei pelas bebidas feitas com outras sementes, grãos e castanhas, que oferecem proteínas e vários nutrientes, tendo inclusive sido o único tipo de "leite" que ofereci à minha filha caçula, hoje com 9 anos.
Decidi chamá-los, no momento, de uma forma que julgo mais acertada e para desfazer a ligação com os leites animais de
Proteína Vegetal Líquida ou Proteína Veg Líquida - por isso, a sigla do título - PVL.
Encontrei uma opção de "leite não-animal" para crianças com a leitura do livro Mamãe, eu quero, da Sonia Hirsch, edição de 1984. Nessa obra, ela indica uma receita, seguindo a tradição macrobiótica, de ferver muitas horas os ingredientes.
Eis a receita:
LEITE DE GRÃOS
4 CS de arroz integral
2 CS de arroz moti ou aveia em grão
1/2 CS de trigo ou cevada
1/2 CS de feijão azuki ou lentilha
1/2 CS de gergelim claro
4 partes de água para 1 de sólidos
Cozinhar em fogo baixo, mais ou menos 3 horas, em panela esmaltada; se for de ferro, melhor, mexer para não grudar os grãos no fundo.
Na superfície, a parte mais rala, fica o leite; no fundo, os grãos desmanchados formam a papa. Passando-a na peneira, vira o creme que pode ser misturado com legumes ou vegetais, um caldinho de feijão - ou o que sua imaginação sugerir.
Como vemos, ela denominava “leite” à parte mais rala (líquida) dessa fervura de grãos.
Essa bebida é baseada na receita do
kokkoh macrô (alimento para crianças), que encontra-se no Guia Prático da Alimentação Macrobiótica Zen segundo o Prof. Ohsawa, de Ilse Clausnitzer (1969). Na época, tal receita não me chamou a atenção porque ainda não tinha filhos...
Vejam como a receita é similar:
Para bebês e crianças, pode-se preparar em casa uma mistura de 200 g de arroz integral, 200 g de trigo sarraceno, 300 g de aveia descascada ou em flocos, 180 g de Graham ou farinha de trigo integral, 100 g de sementes de gergelim e 50 g de farinha de soja. Cada cereal deve ser dextrinado separadamente: 1 a 2 horas de forno entre 80a 90ºC ou por menor tempo em frigideira, mexendo.
Cada cereal será reduzido separadamente à farinha bem fina e após, tudo é misturado.
O alimento infantil "kokkoh" já preparado encontra-se nas casas especializadas.
Para servir às crianças que se amamentam em mamadeiras, cozinham-se 100 gramas em 1 litro de água e leite misturados na proporção de 1:1.
Particularmente, escolhi a primeira receita, que me pareceu mais simples de fazer e mais nutritiva, além de não conter alguns ingredientes da segunda, que considero nocivos.
Então, mais tarde, nos anos 90, descobri os “leites” que poderia fazer com sementes, grãos e castanhas, sem cozinhá-los, simplesmente hidratando-os ou germinando-os e utilizando os resíduos de alguns em receitas de cremes, "queijos", pastas etc.
O método para fazer é muito simples:
hidratar ou germinar as sementes, grãos, castanha e frutas secas.
Adiciona-se água limpa aos
germinados e batemos no liquidificador (desprezamos a água do molho).
Cereais em
flocos (lâminas) ficam de molho e podem ser batidos nessa água onde permaneceram, bem como as castanhas e frutas secas
hidratadas.
Coamos num pano tipo fralda de bebê ou coador com a trama bem fininha. O líquido obtido pode ser tomado puro ou misturado com frutas, em vitaminas, musses ou outras receitas.
Durabilidade e armazenamento:
Costumo fazer uma quantidade suficiente para um dia (mais ou menos um litro), que fica na geladeira.
No máximo, permanece de um dia para o outro..
A questão é que, como não tem conservantes, o melhor é consumir logo.
Eles funcionam perfeitamente em receitas, tipo bolos, pães e onde se indica o uso do leite de vaca ou de soja (com exceção do de gergelim, que não fica saboroso quando aquecido ou cozido).
Acredito que para um bebê, nada mais perfeito do que o leite materno.
Mas, nos raros casos em que a mãe não consegue alimentar seu filho (se existem muitos casos na atualidade, envolvem desinformação e outros motivos e não a "inexistência do leite"), existe a opção do "leite de grãos" cozidos.
Com o desenvolvimento do organismo da criança, ela poderá experimentar os "leites crus", bem como o suco de clorofila - sempre em doses menores do que nós, adultos - tanto na dose dos ingredientes quanto na dose consumida; além disso, deve haver variedade, não oferecer sempre o mesmo "leite".
O aleitamento materno exclusivo é indicado até os 6 meses.
Após essa idade, aconselha-se iniciar a inclusão de outros líquidos, como o suco das frutas e os chás.
Com minha filha, inicialmente usei o leite de grãos fervidos e também usava o resíduo para fazer as papinhas. Mas antes de completar um ano, ela já estava tomando a PVL, usando como ingredientes a aveia, o girassol, o coco, o arroz, o inhame e as castanhas.
Repetindo que, para bebês e para crianças, a dose dos ingredientes é sempre menor do que a dose para adultos (já que pode haver um excesso de ingestão de fibras, comprometendo o delicado sistema digestório deles) e deve-se usar variedade, isto é, não oferecer sempre o mesmo "leite" - por exemplo, aveia pela manhã e castanhas à tarde.
Quem já está acostumado ao leite animal e quer retirá-lo da alimentação, pode inicialmente misturá-lo à PVL, por exemplo com a de aveia, na proporção meio a meio.
Dessa forma, vai introduzindo o novo sabor ao paladar.
Aos poucos, diminui-se a quantidade do leite animal até eliminá-lo completamente, sem que fiquemos muito estressados com a perda do hábito.
Pode-se adicionar cacau aos preparados vegetais, o que torna o gosto similar ao popular “nescau”, bem como frutas, granola, etc.
Em outros tópicos, seguem receitas individuais: uma das mais fáceis de fazer é a bebida com inhame
(ver a imagem): bater no liquidificador inhame cru e água - é saboroso e desintoxicante!
Informação atualizada sobre o consumo de
INHAME CRU, segundo Sonia Hirsch:
"O inhame às vezes pinica tanto nas mãos quanto na boca. Isso indica que aquele inhame específico é rico demais em cristais de ácido oxálico e, nesse caso, é bom cozinhá-lo para neutralizar o ácido. Como há muita variação nos cultivares de inhame, o conteúdo de ácido oxálico (que pode dar pedra nos rins e dificultar a absorção de cálcio e ferro) também varia. O inhame branco japonês parece ser o mais apurado de todos, com teor baixíssimo do ácido. ATUALIZADO EM ABRIL 2009".