Peixe vegetal/V. Falcão
Hoje à tarde, folheando livros na Saraiva, fiquei frente a frente com a Festa Vegetariana da chef inglesa Celia Brooks Brown, que comentei no post anterior, como sendo uma publicação vegetariana fake, já que contém receitas com peixes e frutos do mar. O vegetarianismo, essencial e basicamente, não envolve o consumo da carne dos animais - sem levarmos em conta as divergências dentro do grupo, separando aqueles que se alimentam de leite, laticínios e mel dos que não ingerem nada de origem animal. A questão aqui não é discutir tais divergências mas deixar bem claro que a classificação, piscovegetariano, é inadequada, paradoxal e, quiçá, ridícula!
Muito me espanta que uma chef de nível internacional cometa um desserviço tão grande para os vegetarianos em geral, confundindo a população sobre o que comer ou não para praticar o vegetarianismo.
O livro tem um capítulo especial para o consumo de animais, no caso, peixes e frutos do mar (não acredito que estou escrevendo isso...):
"Vegetarianos que comem peixe - receitas para piscovegetarianos
Pode parecer contraditório, mas, na verdade, eles formam um grupo em franco crescimento. Ainda que as pessoas tenham motivos para restringir a alimentação, algumas não são tão rígidas. Muitas vezes, a escolha do tipo de dieta é apenas uma questão de paladar. Este capítulo é para quem gosta de peixe! (...) Para este capítulo selecionei espécies sustentáveis de peixes e frutos do mar."
Seguindo essa lógica, ela poderia ter escrito: "esse capítulo é para quem gosta de vaca", "esse capítulo é para quem gosta de coelho", "esse capítulo é para quem gosta de rã" e por aí vai... qual a diferença do peixe para outro animal, quando qualquer um deles será morto e devorado? E, certamente, o livro é um estímulo para que o grupo de "comedores de animais intitulando-se vegetarianos" continue em franco crescimento...
Enviei um e-mail para editora do caderno de Gastronomia, Bete Duarte e transcrevo abaixo, juntamente com a resposta dela:
Olá, Bete, sou uma assídua leitora do Caderno de Gastronomia e como vegetariana há mais de 30 anos, gostaria de comentar a matéria da edição de hoje, 5 de agosto, sobre o livro Festa Vegetariana.
Em primeiro lugar, o título está incorreto: Sem Carne... uma das receitas publicadas contém atum e sabemos que atum é um peixe, considerado por alguns como "carne branca" mas, efetivamente, trata-se de proteína animal. "Vegetarianismo é o regime alimentar segundo o qual nada que implique o sacrifício de vidas animais deve servir à alimentação". (Fundamentos do Vegetarianismo, Winckler, Marly - Ed. Expressão e Cultura). Poderia citar uma imensa bibliografia, mas creio que não é o caso, acredito que essa definição, simples e objetiva, seja suficiente para contestar a festa vegetariana da chef Celia Brooks Brown.
E termos paradoxais como "pisci, pesco ou pisco-vegetariano" ou "polo-vegetariano" ou ainda pior, "semi-vegetariano", são termos criados por aqueles que não querem abandonar totalmente o consumo da carne dos animais. São conceitos que existem, mas não são reconhecidos por nenhuma associação vegetariana como sendo tipos de vegetarianismo. São apenas tipos de alimentação mais próximos do vegetarianismo, digamos, um passo no processo para aqueles que não conseguem largar o consumo de carne animal bruscamente. Tais publicações confundem a cabeça das pessoas e tornam a questão nebulosa quanto ao que é, verdadeiramente, ser vegetariano. E se formos entrar no campo do veganismo, a questão torna-se mais radical ainda...
Mas, gostaria que ficasse bem claro para os leitores do caderno que, ao comer peixe, a pessoa não é um vegetariano mas um onívoro. Lamentável que muitas pessoas ainda não tenham entendido isso, muitas por falta de informação, outras por modismo, algumas por cara-de-pau mesmo...
Se tiveres interesse em ler o comentário em meu blog, Cozinha Natureba, que inclusive cita o "verdadeiro" Festa Vegetariana, aqui vai o link:
Verdadeira Festa Vegetariana
Grata pela atenção,
Vera Falcão
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Prezada Vera,
É notório que quem é vegetariano não come qualquer tipo de carne, seja ela carne vermelha, aves ou peixes. Mas a autora do livro Festa Vegetariana é uma chef vegetariana, mas que resolveu ceder espaço, em seu livro, a pratos também para quem come peixe. E isso foi destacado no texto. Seria possível fazer a reportagem sem colocar qualquer dessas receitas, mas seria descaracterizar o livro, que foi feito com essa concessão.
A chef Celis Brown é reconhecida como uma importante profissional que atende celebridades vegetarianas, mas que acredita ser possível fazer uma festa que não seja tão radical na opção de cozinha, o que aliás não é o caso dela, que é vegetariana. Por isso ela usa a expressão piscovegetariana, que muitos não aceitam. Mas realmente a importância da chef não pode ser ignorada.
Atenciosamente,
Bete Duarte
Para mim, a primeira frase é suficiente para definir o erro contido no livro: "É notório que quem é vegetariano não come qualquer tipo de carne, seja ela carne vermelha, aves ou peixes."
Agora, se a chef é "reconhecida como uma importante profissional que atende celebridades" e se isso permite que ela erre e sejamos obrigados a engolir o erro dela, inferimos que ser VIP permite que se diga qualquer besteira e sejamos aplaudidas pela massa desinformada!
Não desfaço a importância da chef ou sua competência profissional, desde que ela seja correta ao usar as palavras, pois FESTA VEGETARIANA NÃO CONTÉM PRATOS COM CADÁVERES DE ANIMAIS.
A cozinha é o lugar mais reconfortante da casa porque nele encontramos alimento para o corpo e para a alma. Deixe a Natureza entrar na sua e esqueça os produtos feitos pela indústria alimentícia em geral, que não coloca amor nesse ato nem está preocupada com a saúde do seu organismo e o de sua família!
Esse é um dos segredos de manter o bem-estar - não entregue essa função vital a terceiros - ponha a mão na massa, deixe a preguiça de lado e estabeleça como prioridade fazer a comida que vai mantê-lo longe das doenças!
Esse é um dos segredos de manter o bem-estar - não entregue essa função vital a terceiros - ponha a mão na massa, deixe a preguiça de lado e estabeleça como prioridade fazer a comida que vai mantê-lo longe das doenças!
6 comentários:
É...sempre teve isso...
na minha linguagem simplória e destreinada,(ahahaha, leia lá no depoimento), é uma palhaçada.
O desenho está ótimo, dá pra dizer que é de algum cartunista profissional(sério), deveria fazer e usar outros.
Ah, no finzinho do texto a palavra "profisisonal" saiu assim embolada, corrija depois(acontece nas melhores famílias, ehehe).
É legal ter uma revisora... rs... já consertei (a pressa sempre foi inimiga da perfeição)! Vou aceitar os elogios para o desenho porque vêm de uma excelente desenhista, que só não é profissional porque não quer... vou lá ler, então, beijo!
"...PRATOS COM CADÁVERES DE ANIMAIS!", foi ótimo!
eu sempre digo que não como bicho morto, e vejo reações de espanto, dai pergunto e por acaso vc vai comer ele vivo? Daí,ficam com cara de nojinho!...kkk
Então, tirando os temperos e o cozimento, o que é a carne senão um cadáver animal? As pessoas enfeitam, deixam cheiroso, mas debaixo da produção caprichada tem um animal que foi assassinado - não costumo ficar discursando sobre isso, porque as pessoas não querem encarar a realidade, é um direito delas, são livres para escolher, mas esse livro me irritou MESMO! Escrevam livros com receitas onívoras, mas coloquem o título apropriado - enganação me revolta! E pouco me importa se a autora é VIP e atende a Stella McCartney, filha do Paul; será que ele, que intitula-se vegetariano, também aprova essa palhaçada de "comer peixe dizendo que é vegetariano"?
Não sou vegetariana, mas sou obrigada a concordar com vc. E ainda digo mais: esse tipo de confusão, na minha opinião, é burrice e/ou mediocridade.
Como assim peixe não é carne?? Então, se eu jogar na terra e regar, nasce um pé de peixe, é isso??? Afe!
Jesus, apaga a luz! heheheh...
É, Paulinha, precisamente como no desenho que fiz... um "pé de peixe"! hehehehe
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